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  1. Entrevista na revista 'Mais Educativa'

    sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

    A entrevista, dada em finais de 2012, via e-mail, à revista Mais Educativa para ser publicada numa futura edição da revista, acabou por 'apenas' ser publicada no site da revista (aqui).


    Dei pela existência de algumas lacunas e erros no copy-paste, pelo que deixo aqui o original.

    A Educação Sexual é um tema inerente ao crescimento de cada ser humano. Qual o papel da escola (professores e restante comunidade escolar) neste processo?
    A escola desempenha um papel fulcral na formação integral dos jovens. Desta forma não se pode arredar da temática da educação sexual - uma necessidade e um direito dos jovens.
    A escola é um dos cenários mais importantes para a implementação da educação sexual enquanto espaço relacional e emocional criador de uma pedagogia do conhecimento do outro, pelo tempo que os adolescentes passam na escola, esta apresenta-se como um dos locais privilegiados da relação dos adolescentes com os seus pares; pelo seu papel educativo e formador, que como tal deve possibilitar aos estudantes um incremento dos seus conhecimentos nas áreas da sexualidade e a promoção de atitudes e comportamentos sem risco.
    A escola integra-se no percurso vivencial do aluno, não como mero recetor de aprendizagens, mas na sua dimensão de ser pessoa: pessoa que faz parte de uma vasta teia relacional, pessoa que se emociona e carece de afetividade, pessoa que estando ainda a subir os degraus da vida, necessita de ser orientado, informado, aconselhado, necessita de alguém que o saiba escutar, aconselhar, apoiar…e esse alguém é muitas vezes o professor.
    Importa salientar que a facilitação no acesso à informação, por si só, não faz a educação sexual. Neste sentido, ganha especial relevo a ação educativa da escola, e dos seus atores, a ajudar os jovens a processar, selecionar e contextualizar todas as informações que recebem no seu quotidiano.



    Há cada vez mais livros sobre esta temática a surgir. É este tema cada vez menos tabu na sociedade?
    O fato de haver mais livros, por si só, não faz com que o tabu desapareça, mas dá um sinal de que a sociedade está predisposta a ver a sexualidade de outra maneira – natural, saudável e feliz, ao invés de oculta, ordinária e negativa.
    São evidentes os progressos e por certo que a educação sexual nas escolas tem contribuído, contudo ainda é muito frequente muitos setores da sociedade olharem de lado para tudo o que envolva a palavra ‘sexo’. Importa referir que quando falámos de educação sexual não estamos reportar à educação genital, mas a uma educação que contempla a dimensão biológica, psicológica, emocional, afetiva, social, espiritual que permitam aos jovens escolhas construtivas na relação com o outro.



    Em que difere o vosso livro dos demais existentes no mercado e de que forma procura ele ajudar a que este tema seja mais falado (por professores e pais) junto dos mais jovens?
    O nosso livro está construído segundo o modelo que atualmente norteia a educação sexual. Este modelo perspetiva a sexualidade como fonte de vida e de prazer, reconhecendo as pluralidades de posições a ela relativos. Valoriza essencialmente o espírito crítico, a escolha livre, informada e esclarecida de forma a promover uma vivência saudável, responsável e feliz da sexualidade.
    Relativamente a outras publicações existentes no mercado, o nosso manual tem algumas mais-valias: é elaborado por duas pessoas que trabalham o mesmo assunto, mas de dois prismas diferentes - a educação e a saúde; está construído tendo em conta o que de melhor e mais eficaz se tem feito em termos de projetos de educação sexual; tem como autores duas pessoas que têm conhecimentos teóricos, mas também experiência de trabalho no terreno; está adaptado à realidade portuguesa; e reúne na mesma publicação a teoria sobre a educação sexual, a informação científica sobre sexualidade humana e um conjunto de sugestões de atividades para que educadores e professores possam implementar a educação sexual e uma proposta avaliativa que poderá funcionar como diagnóstico de necessidades e/ou como avaliação final do projeto desenvolvido com os alunos.



    Podem deixar algumas dicas tanto para leitores (onde se podem dirigir para saber mais sobre estes temas) como para pais (o que podem fazer para abordar este assunto e como responder a algumas perguntas que não estavam à espera…)? E também de que forma pode ser vir este livro para ajudar a todo este processo de dúvidas?
    Os jovens podem obter ajuda sobre este assunto, consultando livros como o nosso, alguns sites de referência e, sobretudo, podem (e devem) consultar os pais, os professores e os técnicos de saúde. O ditado ‘o saber não ocupa lugar’, também se aplica à sexualidade.
    Os pais podem usar este livro que reúne a teoria com a prática e desta forma, não só podem ficar informados sobre a teoria, como também podem tirar algumas sugestões sobre a melhor forma de tratar o assunto com os filhos. Por último, ficam a conhecer como é implementada a educação sexual na escola. A família é a principal educadora, quer pelo direito quer pelo dever que lhe assiste. Tem a responsabilidade de cuidar, amar incondicionalmente e educar os seus filhos para que estes se tornem adultos responsáveis, autónomos com intervenções positivas na sociedade. Costumamos dizer que quer os pais falem, ou não, de questões ligadas à sexualidade com os seus filhos estarão a fazer educação sexual, pelos valores, pelas regras, afetos e atenção que lhes transmitem… Não há receitas para abordar esta temática, cada família tem a sua especificidade, características próprias e únicas. Devem estar atentos aos pequenos sinais que os filhos vão deixando transparecer. Por vezes fico com a sensação que pais e alunos estão a remar em sentidos opostos, que há uma certa alienação parental face às dúvidas e curiosidades dos próprios filhos… Há o medo de alguma pergunta mais virada para o “sexo”, mas como vou responder? Dicas como sermos sempre verdadeiros, dizer que não sei, quando realmente não se sabe sobre o assunto (não sabemos tudo), devolver uma pergunta para sabermos exatamente o que ele quer saber, ou se já ouviu falar sobre esse assunto e o que ouviu, são pequenos truques que podemos utilizar. Estar disponível para ouvir os filhos, o que nem sempre acontece nas famílias alvo de grande tensão e stress nos dias de hoje, é a base para melhorar a comunicação, devendo ser evitadas as críticas e juízos de valor. Tentar sempre apurar a capacidade reflexiva e sentido crítico dos jovens para que estes façam as escolhas saudáveis relativas à sexualidade.
    A veracidade nas relações pais e filhos ajuda na construção de uma relação de confiança e por isso se esta for efetiva os filhos passarão ver os seus pais como uma importante fonte de informação e suporte nesta temática da sexualidade. 
    Um conselho que deixo a pais e professores é que não deixem nenhuma pergunta por responder. Quando os adolescentes perguntam é porque têm dúvidas. Se as perguntas não forem respondidas eles vão procurar a informação noutro local: em colegas, que geralmente têm as mesmas dúvidas, ou na internet, em sites com informação duvidosa. 
    O livro também pode ser um empurrão para os professores e educadores mais impreparados e inseguros na medida em que serve de rede de segurança para o educador começar a trabalhar em educação sexual. No entanto, é importante referir que a experiência é importante, na medida em que transmite segurança e à-vontade que aos poucos farão o educador/professor libertar-se da “receita” dada por outros e traçar o próprio caminho, produzindo os próprios recursos e gizando as melhores estratégias para ter sucesso no seu trabalho.

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