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  1. O Caminho da Educação Sexual.

    domingo, 29 de junho de 2014

    Artigo de opinião de Daniel Sampaio no Público. Leitura obrigatória!

    "Ainda hoje se discute, em Portugal, a educação sexual em meio escolar (ES). Noutros países europeus, entrou na rotina das escolas. Integrada nas áreas de Educação para a Saúde, faz parte do quotidiano dos estabelecimentos do ensino básico e secundário, mobilizando alunos, professores e pais, com o apoio e formação das estruturas de saúde. Estes dados objetivos podem verificar-se em vários relatórios e estudos internacionais.
    Em Portugal, embora desde 1984 se considere que a ES deve fazer parte do currículo escolar, a prática tem revelado flutuações, muitas vezes por motivos de opção política. Como alguns se lembrarão, coordenei um Grupo de Trabalho sobre o tema, de que fizeram parte Margarida Gaspar de Matos, Isabel Baptista e Miguel Oliveira da Silva (2005/2007). Tomando como ponto de partida muito do que já tinha sido feito - sobretudo por associações, como a Associação para o Planeamento da Família -, pudemos definir métodos e processos para a implementação da ES em todas as escolas: destaco o envolvimento das estruturas da saúde, das associações de pais e de alunos, bem como a existência, em todas as escolas, de um professor coordenador de saúde, que passou a dispor de alguma diminuição da componente lectiva, de modo a ter mais tempo para se dedicar a esta tarefa.
    Os resultados foram positivos e culminaram na Lei n.º 60, aprovada pela Assembleia da República em 2009. Nos últimos três anos, todavia, pareceu assistir-se a um menor investimento nesta área, visível nalguns comentários mais descrentes de professores e alunos. Era por isso importante proceder à avaliação do impacto da referida lei, o que ocorreu muito recentemente.
    A avaliação demonstrou que a maioria das escolas (83, 2%) está a cumprir a carga horária prevista para a ES; e, em geral, os estabelecimentos de ensino têm gabinetes de apoio aos alunos, que em 71% dos casos funcionam até seis horas por semana. Continuam a ser as Ciências Sociais e a Biologia as disciplinas mais utilizadas para a ES, embora a grande maioria das escolas (93%) contrate agentes externos para completar o horário previsto.
    Sem dúvida que o caminho percorrido é positivo, mas ainda há muito a fazer. Impõe-se continuar a formação sistemática dos professores, envolver os pais em acções conjuntas, tornar a ES parte da cultura da escola. Os gabinetes de apoio aos alunos, essenciais como locais privilegiados de reflexão e ensino para os estudantes, necessitam de revitalização porque, nalguns casos, estão transformados em locais para onde são enviados jovens com mau comportamento. E os professores entrevistados na avaliação lamentaram a perda da redução da componente lectiva, o que se traduz por sobrecarga no trabalho quotidiano, nem sempre bem compreendido pelas Direcções escolares.
    No rescaldo desta avaliação, alguns jornais falaram de “cansaço dos alunos”. Não sei onde foram buscar esse dado. A grande maioria dos estudantes com quem falo acha, pelo contrário, que se pode fazer muito mais; mas reconhecem o progresso, em conhecimentos e comportamentos face à sexualidade, já visível em jovens universitários de hoje.
    Persiste, nos conservadores habituais, a crítica de que só se fala “do preservativo e da pílula” e nunca dos afectos. Trata-se de uma crítica preconceituosa: basta lerem o Art. 2.º da Lei da ES para verem como não é assim
    ."

  2. Emprego feminino com contratos Durex

    quinta-feira, 19 de junho de 2014

    Dos jornais: "Há empresas que estão a obrigar trabalhadoras a assinar por escrito que não vão engravidar nos próximos cinco anos." Quanto a mim, o que urge são aulas básicas de educação sexual aos patrões: não, a gravidez não se apanha não assinando por escrito. Aliás, assinar não é um método contracetivo. E para prazos tão dilatados, cinco anos, o melhor é a castração química do marido da funcionária: "Querido, arranjei emprego, mas tens de passar na clínica da empresa..." Estes contratos Durex baralham-nos o vocabulário. A medicina no trabalho agora vai chamar-se obstetrícia? Todos os dias, ao entrar, eles picam o ponto, já elas fazem o teste de gravidez. A gravidez, passando a ser a falta laboral mais grave, acima de roubar a empresa está ovular. Engravidar por acaso dá direito a despedimento, por inseminação artificial, já revela dolo, além de ir para a rua tem de se pagar indemnização ao patrão. A trabalhar, a Ivete era um fenómeno e foi despedida: o patrão receou que se tornasse um fenómeno reprodutivo. Já Marília, a mulher de limpeza, chegava de madrugada ao escritório e trabalhava às escuras: não queria ser apanhada a dar à luz. Levar trabalho para casa, elas podem, mas têm de deixar o útero no cofre da firma. Recursos Humanos, comunicação interna: "Dona Olga, os nossos serviços ainda não receberam os dados sobre a sua última menstruação." E eles, quando emprenham pelo ouvido, também são sancionados?

    Crónica de Ferreira Fernandes no DN de ontem.

  3. Regressando ao relatório sobre a implementação da educação sexual nas escolas, destaco algumas passagens do artigo que, em meu entender, merecem reflexão:
     
    "...dirigentes e professores sublinham que as UO estão a fazer um enorme esforço para cumprir a Lei, alguns questionando a capacidade para continuar este processo nas atuais condições. Os professores consideraram-se muito sobrecarregados, muito pouco valorizados e muito pouco reconhecidos nos seus esforços. Lamentaram a extinção das ACND (áreas curriculares não disciplinares), uma vez que, sem estas, são forçados a utilizar tempos das aulas curriculares para cumprir a Lei. Frisaram a rentabilização das disciplinas de Ciências Naturais/ Biologia (no ensino básico e no secundário, respetivamente) mas este facto leva a que os alunos do ensino secundário das áreas de artes, de ciências socio-económivcas e de línguas e humanidades, tal como os que frequentam cursos profissionais, não tenham acesso fácil a estes conteúdos. Os professores lamentaram igualmente a não existência de uma redução da componente letiva para o professor coordenador da saúde de cada UO, implicando uma sobrecarga desse(a) professor(a) e, muitas vezes, a contratação de equipas exteriores à UO com o objetivo de cumprir a Lei n.º60/2009, não promovendo na UO uma evolução em termos de autonomia e de desenvolvimento de uma cultura de “saúde” própria."
     
    "Os alunos (...) referiram algum cansaço pelo facto de os temas serem apresentados anualmente de forma idêntica e sem progressão. Os alunos do ensino secundário gostariam de estar mais envolvidos neste processo, como mentores, em atividades informativas e formativas com colegas mais novos. Alunos, professores e pais sugeriram uma progressão na abordagem deste tema, ao longo dos vários ciclos de aprendizagem, sugerindo ainda uma monitorização que garanta que o assunto não se centre unicamente nos aspetos biológicos da reprodução e nas infeções sexualmente transmissíveis. Direções e professores referiram uma necessidade de “refrescar” este tema, dando novo ímpeto à Lei e ao seu cumprimento, ..."

  4. Foi, ontem, apresentado o relatório sobre a implementação da Educação Sexual nas escolas portuguesas. A equipa, liderada por Margarida Gaspar de Matos, inquiriu diretores e coordenadores de educação para a saúde de mais de 50% das escolas portuguesas, públicas e também algumas privadas, tendo apresentado agora as suas conclusões.

    No entanto, já existe, em pré-publicação, um artigo que apresenta os resultados deste estudo. Está disponível aqui e é gratuito.

    Seguidamente, transcrevo o resumo do artigo:
    A educação sexual é crucial para reduzir os comportamentos sexuais de risco (ou pelo menos não permitir o seu aumento). O objetivo deste estudo foi avaliar a implementação da educação sexual em meio escolar. Para o estudo quantitativo, foram convidadas a participar todas as Unidades orgânicas (UO) de Portugal Continental. Participaram no estudo quantitativo um total de 428 diretores, 424 professores coordenadores de educação para a saúde, pertencentes a 428 UO (que incluem 384 agrupamentos e 44 escolas secundárias não agrupadas), que correspondem a 53% das UO portuguesas públicas, e integram 617 701 alunos e 60 595 professores. Para o estudo qualitativo realizaram-se entrevistas. Da análise dos resultados ressalta que a Lei n.º 60/2009 (de 6 de agosto) está a ser implementada, no que diz respeito à apresentação dos conteúdos de educação sexual previstos na Lei e a carga horária preconizada. As UO organizaram um Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno e gerem o respetivo funcionamento. A implementação da Lei é em geral classificada como Boa/Muito Boa. No entanto, dirigentes e professores sublinham que as UO estão a fazer um enorme esforço para cumprir a Lei, alguns questionando a continuidade do processo nas atuais condições. Direções e professores referiram a necessidade de “revitalizar” este tema, sublinham a
    necessidade de manutenção da Lei, do edital anual a partir do qual o Ministério da Educação e Ciência recebe propostas de solicitação de financiamento por parte das UO, para projetos na área da promoção da saúde, e a importância da formação de docentes.

    Também podem ler o artigo do Público sobre este assunto (aqui).
    Destaque para a opinião do Secretário de estado da Educação, João Grancho, que garante que a educação sexual vai continuar a ser uma prioridade, sublinhando a formação de professores e de pais como um aspecto “muito importante".

  5. Colóquio: deficiência e sexualidade

    quinta-feira, 5 de junho de 2014

    + info aqui