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  1. Violência no namoro e redes sociais

    sábado, 18 de abril de 2015

    Um “gosto” no facebook também potencia a violência no namoro 
    Quatro em cada dez namoros são marcados por episódios de violência. Alguns envolvem ameaças com armas. Ciúmes e tentativa de controlo na origem das agressões

    Uma simples fotografia partilhada no facebook, por mais discreta que seja, de rosto ou corpo inteiro, ter cem “gostos” de desconhecidos, não acarretará, à partida, grande problema entre jovens casais. Mas a conversa pode mudar com um simples like de alguém da mesma turma ou da mesma escola. Sobretudo se for do sexo oposto. “É aí que muitas vezes começam os problemas e a violência nos namoros”, alerta um grupo de estudantes da Escola Lima de Freitas, em Setúbal.


    Estranha teoria? Até pode ser, mas é transversal aos depoimentos escutados pelo DN junto de jovens de 16 anos que participaram no seminário “Juventude de Setúbal diz não à violência no namoro”. Inês explica que um like colocado por um rapaz na foto de uma amiga da mesma escola suscita “forte tendência para os ciúmes” quando esta tem namorado. “A maioria dos rapazes e das raparigas não querem que os namorados tenham esses ‘ gostos’, porque acham que é como se estivessem a gostar delas ou deles”, acrescenta Letícia, enquanto Daniela prefere falar em “falta de respeito e de espaço” e Ruben lamenta que muitos casais da sua idade “até partilhem perfis no Facebook para controlarem tudo o que andam a fazer”.


    Rafaela não duvida que “a violência no namoro consegue ser quase secreta entre alguns casais da sua geração, mas está presente de várias formas”, e Bruno explica que ainda há muitos rapazes que batem nas namoradas “porque até há uns anos atrás era natural o homem bater na mulher”.

    É aqui que reside uma das preocupações da Associação de Apoio à Vítima. “Enquanto acharem que bater é normal numa relação, temos um problema grave”, justifica Balbina Silva. A representante do núcleo de Setúbal da APAV revela que cada vez que os técnicos vão às escolas deparam- se com casais de alunos para quem a “agressividade faz parte do namoro, pois consideram que ter ciúmes e controlar o outro é sinal de amor. Foram criados com esses conceitos”.

    Mas há números a sublinhar as preocupações. Um estudo do Instituto Universitário da Maia, realizado no Norte do país, a um universo de 1056 jovens inquiridos, apurou que 417 ( 39,5%) admitiram estar ou ter estado envolvidos em relações de namoro abusivas. A investigadora Sofia Neves, que dirigiu o inquérito, revelou que os atos são de natureza física, sexual e emocional, revestindo- se alguns de “particular gravidade”, por incluir ameaça com armas e apertos de pescoço. As raparigas praticam mais violência física ao nível da bofetada, mas sofrem mais apertos de pescoço, insultos, impedimentos de contactos com outras pessoas, perseguições e gritos.

    Já um segundo estudo nas escolas públicas no distrito do Porto concluiu junto de 107 raparigas que as causas de violência são atribuídas a problemas familiares, ciúmes, controlo, nervosismo dos rapazes, término das relações de namoro. Quanto às causas explicativas de violência sexual, o inquérito destaca a conduta das raparigas, vestuário e pressão social no sentido de perderem a virgindade o mais precocemente possível. Entre as estratégias para lidar com o sofrimento psicológico, destaca- se a automutilação, exposição pública de imagens de nudez, frustração, choro e depressão.

    Dados que não surpreendem Natividade Coelho, coordenadora do Plano para a Igualdade do Agrupamento de Escolas Lima de Freitas, um projeto que ambiciona fazer o diagnóstico entre “eles” e “elas”, desde as crianças do jardim- de- infância até ao 12. º ano, e que permita intervir na violência no namoro, mas também no abandono e sucesso escolar.
    FONTE: Diário de Notícias

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