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  1. O feminismo é para toda a gente

    segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

    Está-se a tentar recuperar o tempo perdido. Os anos, as décadas, em que o assédio e o abuso sexual de mulheres foram relegados para segundo plano, aligeirados, ignorados. “Erguemos vidas inteiras, famílias e comunidades em torno do buraco deixado pela ausência desta conversa”, sintetizou recentemente a escritora, jornalista e activista feminista inglesa Laurie Penny. Agora a discussão está em cima da mesa. Em Outubro, o novelo começou a desenrolar-se a toda a velocidade em Hollywood com o caso do produtor de cinema Harvey Weinstein. Seguiram-se denúncias em catadupa no mundo da televisão e do cinema, na música, nas artes visuais, no Parlamento Europeu, na política. Os meios de comunicação começaram a olhar com mais atenção para a realidade dos seus próprios países.

    Contudo, a discussão dominante continua a ser demasiado homogénea. Está centrada, sobretudo, nas experiências de mulheres brancas, que correspondem a certos padrões de beleza hegemónicos, que são de classe média-alta e cisgénero (quando a identidade de género de uma pessoa coincide com o sexo e género que lhe foram atribuídos à nascença). Não é, obviamente, uma questão de desvalorizar ou secundarizar a violência de que são alvo, mas sim de ir além de uma visão parcial sobre uma realidade com várias nuances. “Muitas vezes estas questões do assédio e do abuso sexual são vistas de forma linear, com homens-tipo e mulheres-tipo. Existe muita variabilidade dentro do assédio”, afirma Conceição Nogueira, docente da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto e doutorada em Psicologia Social, na área dos Estudos de Género. “Trata-se de dinâmicas sociais de género e de poder complexas. Isto perpassa todas as classes sociais, todas as profissões, todos os corpos, todas as idades. Existe aqui um mundo.”

    Um mundo onde a hierarquia social que determina quem se deve ouvir e em quem se deve acreditar vai também além do género. “Temos de pensar nisto de uma forma muito mais interseccional, senão a discussão avança pouco e quase não saímos da caricatura”, declara João Manuel de Oliveira, investigador em Estudos de Género no ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e professor visitante na Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil. Reflectir sobre a violência de género a partir de uma “perspectiva binária” é “muito útil para perceber como determinadas sociedades acabam por recorrer a esse sistema para impor as suas normas, para reproduzir determinadas relações sociais”. Mas o mundo não vive assim — Portugal incluído. “Estas categorias sociais de género são intersectadas por outras, como a raça, a classe, a nacionalidade, a religião. Isso tudo influencia”, esclarece o investigador.

    O assédio — na rua, nos espaços públicos, no trabalho, na Internet — é simultaneamente um sintoma e um pilar estrutural das sociedades machistas, racistas, transfóbicas e androcêntricas em que vivemos. É uma cultura sistémica e profundamente enraizada; não é algo característico ou exclusivo de determinados contextos mediáticos e mediatizados como Hollywood. Para minorar e erradicar o assédio e o abuso sexual é preciso começar por desconstruir todo um sistema de opressões intercruzadas que os sustentam e perpetuam. “O assédio tem raízes muito densas. Se pensares de onde é que ele vem, as entidades que são submetidas a isso, como é feito, em que moldes, quais são as consequências. É muito complexo”, reflecte Odete C. Ferreira, DJ e performer de 22 anos para quem o assédio é “uma parte muito grande” e “muito horrível” da sua vida.

    "Há uma narrativa, mesmo nos manuais escolares, que apresenta o nosso corpo ao mesmo tempo como uma propriedade e como algo exótico e hipersexualizado.” Ana Fernandes, activista


    Fonte: Público |||| Ler todo o artigo aqui

  2. Sexualidade é afeto, é partilha, é contacto, é intimidade e faz parte da vida de todos nós, influenciando a nossa saúde física e mental. Quando falamos de sexualidade, falamos também de muitos mitos e crenças a ela associados. Hoje, 3 de Dezembro, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, vamos falar em sexualidade na deficiência intelectual.

    Numa sociedade em que desde muito cedo se questiona às crianças se já têm namorado, que sentido faz a determinada altura do desenvolvimento deixar de se falar sobre isso na expectativa de que não aconteça ou aconteça mais tardiamente? Agora, imaginem uma criança com deficiência intelectual?! Quando falamos de sexualidade na deficiência, deparamo-nos com muitas inquietações: desde o medo dos familiares de que o seu filho(a), que vêm como criança em corpo de homem ou mulher, sofra com uma experiência para a qual não está preparado(a) – envolvimento sexual, inadequação, abuso, gravidez, exposição pública – à carência de informação sobre as características gerais e sexuais de cada uma das deficiências e preconceitos e crenças erradas que conduzem à privação de educação sexual a estes jovens.
    As famílias dos jovens com deficiência tendem a acreditar que os mesmos são “assexuados” e ficam, por vezes, aterrorizadas com as suas manifestações sexuais. A verdade é que a sexualidade na deficiência intelectual tem contornos próprios.
    As dificuldades específicas da pessoa com deficiência intelectual ao nível do desenvolvimento da maturidade emocional e social, da auto-regulação, da interacção social e das competências na resolução de problemas não lhe permitem por vezes ler e compreender pensamentos e emoções dos outros e até expressar os seus sentimentos adequadamente.
    Por norma, nas pessoas com deficiência existe um défice nos mecanismos de autocrítica, que leva a agir de forma impulsiva – “directa ao assunto” e pouco consciente dos limites. Por outro lado, os seus conhecimentos nessa matéria são insuficientes, até porque, muito provavelmente, terão sido privadas de acesso a educação sexual.
    Da mesma forma que ensinamos sobre as regras e comportamentos correctos a ter em sociedade, é de extrema importância treinar sobre os comportamentos sexuais e a sua adequação social. Essa tarefa cabe aos pais, professores de ensino especial e a todos nós que temos o privilégio de nos cruzarmos com algumas destas pessoas.
    As pessoas com deficiência intelectual estão muitas vezes isoladas no seu meio familiar ou institucional, ficando desta forma privadas de um contexto social normativo que lhes permita adquirirem um bom desenvolvimento psico-sexual. É importante também ressalvar que as pessoas com deficiência intelectual raramente têm os seus momentos de privacidade onde possam ter comportamentos sexuais de auto-erotismo ou com outras pessoas, apesar de lhes ser dito que existem espaços e momentos específicos para isso.

    Como qualquer outro adolescente a passar pela puberdade, os jovens com deficiência devem ter acesso a educação sexual, com metodologia adequada ao grau/severidade da deficiência. Esta deve ser um espaço para:
    * Partilhar conhecimentos, sentimentos e vivências;
    * Favorecer uma atitude informada com especial atenção para alguns riscos de abuso e riscos do meio digital;
    * Trabalhar as competências da comunicação de sentimentos e necessidades sexuais, bem como assertividade para reagir a comportamentos não desejados;
    * Promover atitudes positivas, em vez de atitudes repressivas e discriminatórias face aos seus sentimentos e comportamentos sexuais.

    Respeitando a cultura e a sensibilidade particular de cada um, com as famílias da pessoa com deficiência será necessário:
    * Trabalhar as preocupações e medos dos pais quanto ao futuro sexual dos filhos;
    * Sensibilizar os pais para serem um modelo de conduta que transmite valores e conhecimentos sobre sexualidade;
    * Auxiliar na compreensão da sexualidade como parte integrante do direito à saúde física, mental e sexual.

    Para além de tudo isto, é importante pôr os médicos a abordarem proactivamente as questões relacionadas com a vida sexual, muito em particular noções elementares de sexo e métodos contraceptivos, envolvendo nesta discussão não apenas a pessoa com deficiências mas também, naturalmente, os seus familiares.
    É fundamental que familiares e prestadores de cuidados tenham sempre presente que a aparente ausência de preocupação com a sexualidade não significa de modo algum que tudo esteja bem ou que não haja necessidade de pensar sobre isso.

    Fonte: Público Online

  3. Violentómetro

    segunda-feira, 27 de novembro de 2017

    Vários estudos têm identificado que a violência física e psicológica se apresenta muitas vezes de forma dissimulada, manifestada, por exemplo, em cenas de ciúmes e ameaças associadas, em chamadas constantes para o telemóvel, ou em proibições da forma de vestir. Estes comportamentos são encarados, por vezes, como toleráveis e percecionados como normais e eventualmente entendidos como demostrações de carinho, atenção e amor.
    “Muitos destes comportamentos decorrem de papéis de género transmitidos desde muito cedo, aprendidos e reforçados quotidianamente, e isso permite que, em muitas ocasiões, se gerem situações de violência de diferentes tipos. Face a este cenário, importa consciencializar as pessoas para estes comportamentos violentos desde as suas primeiras ocorrências, impedindo a que eles ocorram ou que continuem a manifestar-se”, afirma Ricardo Barroso, docente e investigador da UTAD, e especialista na área da psicologia clínica e justiça.
    “Trata-se de uma ferramenta de sensibilização que visa ajudar na deteção, alerta e denúncia deste tipo de situações que afetam a liberdade e tranquilidade de mulheres e homens, que ocorrem nas relações interpessoais e que podem ser experienciados nos contextos escolares, laborais e nas relações de intimidade” acrescenta o investigador.
     


  4. Transgender Day of Remembrance is observed in late November in recognition of the 1998 murder of Rita Hester. Rita was a highly visible member of the transgender community in her native Boston, MA where she worked locally on education around transgender issues. On Saturday, Nov. 28, Rita was stabbed 20 times in her apartment. A neighbor called the police, and Rita was rushed to the hospital. She passed away from cardiac arrest only moments after being admitted. Almost two decades later, police still have not found Rita’s murderer (or murderers). In 1999, one year after Rita’s murder, advocate and writer Gwendolyn Ann Smith coordinated a vigil in Rita’s honor. The vigil commemorated not only Rita, but all who were tragically lost to anti-transgender violence.


    In addition to the vigil, Smith launched the Transgender Day of Remembrance website to recognize and remember those whose lives have been lost to anti-transgender violence. Organizations throughout the world — from Groupe Activiste Trans in Paris to Human Rights Commission of Tel Aviv in Israel to Diritti in Movimiento in Pescara, Italy — have since taken to recognizing the day. Media coverage of Transgender Day of Remembrance often includes documenting lives lost to violence, as well as expounding on the all too frequent harassment, discrimination, and disenfranchisement transgender people experience on a regular basis.

    "The Transgender Day of Remembrance seeks to highlight the losses we face due to anti-transgender bigotry and violence. I am no stranger to the need to fight for our rights, and the right to simply exist is first and foremost. With so many seeking to erase transgender people -- sometimes in the most brutal ways possible -- it is vitally important that those we lose are remembered, and that we continue to fight for justice."

    - Transgender Day of Remembrance founder Gwendolyn Ann Smith

  5. Resolução da Assembleia da República n.º 254/2017 
    Recomenda ao Governo o aumento das competências dos gabinetes de informação e apoio ao aluno no âmbito da educação para a saúde e educação sexual e o seu alargamento ao ensino superior

    A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo que: 
    1 — Estenda a obrigatoriedade de implementação dos gabinetes de informação e apoio ao aluno, ou de solução similar, a todas as universidades e institutos politécnicos do ensino superior. 
    2 — Aumente o quadro de competências dos gabinetes de informação e apoio ao aluno no que concerne à disponibilização gratuita de métodos contracetivos não sujeitos a prescrição médica, em articulação com as unidades de saúde. 
    3 — Proponha aos estabelecimentos de ensino, no âmbito da sua gestão flexível do currículo, um reforço da carga horária dedicada à educação sexual nos ensinos básico e secundário. 
    4 — Assegure, através do Ministério da Educação, uma oferta formativa em todo o território nacional para o pessoal docente dos ensinos básico e secundário, no âmbito da educação sexual. 
    5 — Estipule a obrigatoriedade de envio, para o Ministério da Educação e para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, de informação sobre a implementação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, a remeter anualmente pelos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, no caso dos ensinos básico e secundário, e pelas instituições de ensino superior, até ao mês de outubro do ano letivo seguinte àquele a que se reporta a informação. 
    6 — Elabore, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, um relatório anual sobre a implementação da educação sexual nas unidades orgânicas das instituições de ensino superior, a ser entregue na Assembleia da República até ao mês de março do ano seguinte. 
    7 — Fomente as sinergias entre as unidades orgânicas, a comunidade educativa e o Governo, visando a implementação generalizada da educação sexual. 
    8 — Elabore, através do Ministério da Educação, um relatório anual de avaliação do impacto da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, à semelhança do trabalho efetuado em 2013.

    Disponível aqui

  6. A Amnistia Internacional Portugal vê os fundamentos do acórdão do Tribunal da Relação do Porto como violadores das obrigações internacionais a que Portugal está vinculado.

    É com profunda preocupação que a Amnistia Internacional Portugal vê os fundamentos utilizados pelo Tribunal da Relação do Porto para negar provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público no caso em que dois arguidos foram condenados a penas suspensas pelos crimes de violência doméstica, detenção de arma proibida, perturbação da vida privada, injúrias, ofensa à integridade física simples, e sequestro.

    O Ministério Público interpôs recurso da decisão com base em errónea valoração da prova, entendendo que a gravidade dos atos cometidos e a premeditação dos mesmos seriam fundamento bastante para a aplicação de penas de prisão efetiva mais gravosas. O Tribunal da Relação do Porto negou provimento ao recurso citando passagens da Bíblia e o Código Penal Português de 1886, usando igualmente a honra do ofendido como atenuante do crime praticado. A citação de documentação histórica e religiosa sem ter em conta o devido contexto e enquadramento histórico e religioso entende-se como abusiva.

    A Amnistia Internacional Portugal expressa a sua preocupação não só pela atuação dos juízes desembargadores ao arrepio dos preceitos legais e constitucionais, mas pelo espelhar de uma cultura e justiça promotora de misoginia, sem ter em conta os direitos das mulheres, e como recurso à compreensão da violência para vingar a honra e a “dignidade do homem”.

    Cumpre lembrar que Portugal está vinculado não só aos tratados internacionais de direitos humanos dos quais é parte, mas também se encontra vinculado, desde 1 de agosto de 2014, às obrigações previstas na Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência Contra as Mulheres e a Violência Doméstica, comummente conhecida como Convenção de Istambul.

    Em particular, Portugal está obrigado a “assegurar que, nos processos penais iniciados no seguimento do cometimento de quaisquer atos de violência cobertos pelo âmbito de aplicação da presente Convenção, a cultura, os costumes, a religião, a tradição ou a pretensa “honra” não sejam considerados como justificação para tais atos. Isto cobre, em particular, as alegações segundo as quais a vítima teria transgredido normas ou costumes culturais, religiosos, sociais ou tradicionais relativos a um comportamento apropriado” (artigo 42.º, n.º 1 da Convenção de Istambul).

    As considerações do acórdão do Tribunal da Relação do Porto, nomeadamente as considerações de que “a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente” e que “o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem” são considerações emanadas dum órgão de soberania violadoras das obrigações internacionais a que Portugal está vinculado. Usar como atenuante de um crime de violência doméstica “a deslealdade e imoralidade sexual da assistente”, pela assunção de que “o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente” vai contra preceitos básicos de respeito pela dignidade humana e pelo Estado de direito, uma vez que se afasta da aplicação da lei para decidir com base em pretensas regras de moral societária.

    O artigo 203º da Constituição da República Portuguesa consagra o princípio da sujeição dos tribunais à lei no exercício da sua competência para administrar a justiça em nome do povo. Por “lei” entende-se “todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes” (artigo 1º, nº 2 do Código Civil). Acresce que apenas têm valor de lei os diplomas em vigor ao tempo da sua aplicação e não os diplomas legislativos que estejam revogados. O Código Penal Português de 1886, citado no acórdão do Tribunal da Relação do Porto, foi revogado pelo Código Penal de 1982, revisto pelo Decreto-Lei 48/95, de 15 de março. Assim, o Código Penal de 1886, citado no acórdão, não é fonte de direito português, não podendo ser utilizado pelos tribunais.

    A Amnistia Internacional Portugal considera, ainda, preocupante a citação do Antigo Testamento da Bíblia na fundamentação da decisão de negar provimento ao recurso por manifesta violação do princípio da separação entre igrejas e Estado, consagrado no artigo 41.º, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa. A utilização de textos religiosos, neste caso ainda, descontextualizados e para outros fins e interesses particulares é abusiva à religião citada, face a quem a professa. A Amnistia Internacional Portugal defende a ausência de considerações de caráter religioso como fundamentação jurídica em nome do respeito do princípio da laicidade e em nome da igualdade e do respeito por todas as religiões.

    A justiça tem a obrigação de proteger cidadãos e cidadãs, de igual forma, sem discriminação de género e, mais, garantir que não há perpetuação de crimes, nem isenção de responsabilidade por parte de quem comete violência doméstica, independentemente das relações familiares.

    A Amnistia Internacional Portugal insta assim aos órgãos competentes que, em respeito da lei e da Constituição, façam cumprir as obrigações internacionais a que Portugal está adstrito.

  7. Extratos do acórdão da VERGONHA

    segunda-feira, 23 de outubro de 2017

     “…condenar o arguido X como autor material, e na forma consumada, de um crime de violência doméstica…” e “…pela prática de um crime de detenção de arma proibida…”

    “…condenar  o  arguido Y como  cúmplice,  e  na  forma  consumada,  de  um  crime de violência doméstica…”; “…pela prática de um crime de perturbação da vida privada…”; “…pela prática de um crime de injúrias…”; “… pela prática de um crime de ofensa à integridade física simples…” e “…pela prática de um crime de sequestro…”

    Este caso está longe de ter a gravidade com que, geralmente, se apresentam os casos de maus tratos no quadro da violência doméstica.
    Por outro lado, a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente.
    Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem.
    Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte.
    Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte.
    Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372.0) punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse acto a matasse.
    Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher.
    Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o acto de agressão, como bem se considerou na sentença recorrida.

    O acórdão pode ser lido na íntegra aqui

  8. Portugal no fundo da tabela da igualdade de género

    quarta-feira, 11 de outubro de 2017

    Portugal está no fundo da tabela no ranking dos países da Europa a 28 sobre igualdade de género, tendo subido uma posição e estando agora em 21.º, à frente da República Checa, Grécia, Croácia, Chipre, Luxemburgo, Roménia e Eslováquia.
    O ranking é elaborado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês), segundo o qual a União Europeia a 28 está a conseguir fazer progressos em matéria de igualdade de género, ainda que de forma lenta.

    Os dados do EIGE (aqui), relativos a 2015, mostram que a média europeia está agora nos 66,2 pontos em 100, quatro pontos acima do valor de há dez anos, com a Suécia em primeiro lugar, com 82,6 pontos, e a Grécia no fim, com 50 pontos.
    (...)
    É mesmo na saúde que Portugal obtém a classificação mais elevada, 83,6 pontos em 100, sendo que nesta área o EIGE alerta para o facto de as desigualdades de género serem um desafio crescente para as sociedades envelhecidas.
    Apesar da pontuação tão alta, Portugal é incluído no grupo de três países, com a Lituânia e a Letónia, com as piores situações, com o EIGE a referir que a saúde é um indicador da situação económica e de educação de um país, já que “baixos níveis de educação significam uma saúde mais pobre, especialmente entre as mulheres”.
    Em matéria de trabalho, onde Portugal consegue 72 pontos, o EIGE aponta que tem havido um progresso muito lento nos últimos dez anos na União Europeia, com as pontuações mais elevadas na Suécia, Dinamarca e Holanda e as mais baixas na Grécia, Itália e Eslováquia.
    Já em matéria de dinheiro, Portugal consegue uma avaliação de 70,9 pontos, e é incluído no grupo de sete países com progressos marginais, abaixo dos três pontos, enquanto a maioria dos estados membros melhorou nesta área desde 2005, “trazendo as mulheres e os homens para igual acesso à independência económica”.
    Sobre a questão monetária, o EIGE aponta que as desigualdades ao longo da vida levam a maiores fossos de género nas idades mais avançadas, e que as mulheres enfrentam um maior risco de pobreza em idosas do que os homens, com 18% das mulheres e 12% dos homens com mais de 75 anos em risco de pobreza monetária.

    Onde Portugal tem a classificação mais baixa é em matéria de poder, com 33,9 pontos, mas onde é referido como tendo conseguido subir mais de 10 pontos graças a ter melhorado o equilíbrio entre géneros nas tomadas de decisão.
    O EIGE atribui grande parte do sucesso à introdução de quotas, apontando Portugal como um dos nove países com legislação específica e como um dos países onde houve mais progressos graças ao facto de a legislação de quotas estar a ser aplicada há mais tempo.
    No que diz respeito à educação, a classificação de Portugal chega aos 54,8 pontos, com o país a ser incluído no grupo de cinco onde a situação melhorou mais de 10 pontos no nível educativo e participação.
    Por último, no que diz respeito ao uso do tempo, onde Portugal obtém 47,5 pontos, o país é apontado como um dos nove que em 2015 atingiram a meta de providenciar creche a 33% de crianças com menos de três anos.
    Por outro lado, os homens portugueses são dos que menos usam do seu tempo nas tarefas domésticas, o que faz com que em Portugal haja um fosso de género de 60%.

  9. Vamos discutir a violência sexual na escola?!

    sábado, 30 de setembro de 2017

    Interessante vídeo para ver e discutir com @s alun@s e também com as famílias.


  10. Dia Mundial da contraceção

    terça-feira, 26 de setembro de 2017


    Os homens também querem saber de contraceção

    De uma forma geral, as relações sexuais estão associadas a emoções positivas como o prazer ou o sentir-se amado ou atraído. Mas, em torno delas também existem dúvidas e receios, tais como a possibilidade de uma gravidez não planeada u as infeções sexualmente transmissíveis, que são as principais preocupações de homens e mulheres em relação ao sexo.
    Existe uma relação muito estreita entre as relações sexuais e a necessidade de métodos contracetivos e embora a contraceção tenha sido uma questão mais feminina – porque os homens têm menos possibilidades de regular a sua reprodução – eles também querem saber sobre este tema.
    A nossa sociedade está a evoluir e, embora falte avançar muito em alguns aspetos, noutros, os papéis femininos e masculinos cada vez se diluem mais. Na contraceção, conforme apontam os especialistas que participaram neste guia com base nas situações que observam nos seus consultórios e nos dados obtidos no site www.ellaone.pt, a tendência é que: os homens também querem saber sobre a contraceção. Neste sentido, parece que os homens cada vez se envolvem mais em saber como funcionam os contracetivos, qual é a sua eficácia, qual é o mais adequado para cada situação e para cada tipo de casal e também querem saber como atuar no caso de terem tido uma relação desprotegida ou perante uma falha do método contracetivo habitual.
    Um acidente ou uma falha do método contracetivo regular, são situações nas quais se requer mais informação devido ao impacto que pode ter na vida uma gravidez não planeada. De acordo com o perfil de visitas de www.ellaone.pt sobre a pílula do dia seguinte, a informação sobre a contraceção de emergência já não é uma questão unicamente das mulheres e cada vez mais homens estão interessados em saber mais sobre este tipo de contraceção.


    Este “Guia masculino da contraceção” foi elaborado pensando especialmente no sexo masculino e baseia-se na análise dos seus interesses, dúvidas e preocupações que foram observados pelos profissionais de saúde que participaram no mesmo. Antes de mais, pretende ser uma ferramenta de informação sobre questões como a escolha de um método contracetivo, quando pode ser a altura de mudar de método e como agir perante uma relação desprotegida ou uma falha do método contracetivo.

  11. Cinema Sem Conflitos

    sábado, 23 de setembro de 2017

    cinemasemconflitos.pt - um endereço que deve constar nos favoritos de todos os educadores e professores.

    Este site/blogue reúne uma enorme colectânea de curtas metragens de animação sobre várias temáticas: Amor e Sexualidade, Bullying, Dilemas Sociais, Religião e Cultura, Drogas, Família, Emoções, Racismo, Relações Interpessoais e Violência.

    Para a temática deste blogue, destacamos as animações nas categorias de Amor e Sexualidade, Emoções e Relações Interpessoais.

    A animação seguinte - apenas um exemplo, entre muitos - relata a realidade virtual em que vivemos. Curiosamente as redes chamam-se 'sociais'...talvez o melhor nome fosse "sociovirtuais"!




  12. O 1º EdSex= : Concurso de Boas Práticas de Promoção da Igualdade de Género na Educação Sexual encontra-se a decorrer até 30 de setembro de 2017.
    Este concurso pretende distinguir escolas, turmas ou grupos de alunos e alunas, na zona Centro de Portugal (NUTS II), que se destacaram pelas suas iniciativas e práticas escolares na promoção da igualdade entre mulheres e homens, no combate à violência no namoro e à discriminação por motivo da orientação sexual ou da identidade/expressão de género enquadradas no âmbito da Educação Sexual.

    1º Prémio – 300€ + Construção do Selo/Certificação para Futuros Concursos
    2º e 3º Prémios – Conjunto de Livros
    Viagem a Coimbra e Sete Dias de Verão de Bruno Magina e Joana Santos (Ilustração);
    Cenas de Uma Adolescente e + Cenas de Uma Adolescente de Maria Bravo;
    A Minha Família é a Melhor do Mundo. E a Tua? de Sofia Neves, Joana Miranda e Luís Romano (Ilustração).

    As candidaturas fora da zona Centro de Portugal (NUTS II) não são elegíveis para prémio, mas serão aceites. São elegíveis para as seguintes distinções:
    Menção Honrosa;
    Inclusão da Boa Prática no Guião de Boas Práticas da Casa Qui, com referência da respetiva autoria.

    Para concorrer basta preencher o Formulário de Candidatura.
    Consulte o Regulamento do Concurso.
    Dúvidas? Consulte primeiro as Perguntas Frequentes.

  13. Retrocesso(s) no Brasil

    terça-feira, 19 de setembro de 2017

    Justiça permite que psicólogos tratem homossexualidade como doença


    Decisão abre margem para que profissionais realizem terapias de reversão sexual, sem a necessidade de qualquer licença prévia ou a possibilidade de censura
     
    A Justiça do Distrito Federal, no Brasil, consentiu, em caráter liminar, que os psicólogos possam tratar os pacientes homossexuais como doentes, permitindo a realização de terapias de reversão sexual.
    Na audiência, o juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, decidiu aceitar parcialmente o pedido da ação popular que requeria a suspensão da resolução imposta em 1999 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), na qual são estabelecidas as normas de conduta dos psicólogos no tratamento de questões que envolvem a orientação sexual, defendendo que a homossexualidade não constitui uma doença, nem distúrbio ou perversão.
    Waldemar manteve a integridade do texto da resolução de 1999 mas determinou que a interpretação da mesma deve ser aberta para aqueles profissionais que promovam terapias de reversão sexual, sem a necessidade de qualquer licença prévia ou possibilidade de censura.
     
    [tudo aqui]

  14. Os direitos humanos, a igualdade de género e a interculturalidade, onde se abordarão as questões ligadas ao racismo, estão entre os temas que serão de abordagem obrigatória em todos os ciclos de ensino, no âmbito da Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania que foi apresentada nesta sexta-feira pelo Governo.
    (...)
    Neste ano lectivo, a nova estratégia irá ser apenas aplicada nas 235 escolas públicas e privadas que integram o projecto-piloto de flexibilidade curricular. No 2.º e 3.º ciclos de escolaridade, os temas a abordar serão desenvolvidos na nova disciplina de Cidadania e Desenvolvimento prevista nas matrizes curriculares que estarão em vigor nas escolas do projecto-piloto, na qual os alunos terão notas à semelhança do que se passa nas outras disciplinas.
    No 1.º ciclo e no ensino secundário terão “natureza transdisciplinar”, devendo contar, no último caso, “com o contributo de todas as disciplinas e componentes de formação”, especifica-se no documento divulgado nesta sexta-feira.


    "O que se pretende não é instituir uma disciplina formal, no sentido de que há um professor que debita a matéria, mas sim implementar uma metodologia de projecto porque a cidadania para se desenvolver tem de contar com uma parte prática", especificou a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade (...)
    Entre os temas de abordagem obrigatória em todos os ciclos de ensino figuram também o desenvolvimento sustentável, a educação ambiental e a saúde. Existem depois outros dois grupos de conteúdos. Um, de abordagem obrigatória em pelo menos dois ciclos de ensino básico, que integra temas relacionados com os media, participação democrática e sexualidade, entre outros. E outro de aplicação opcional em que são propostas abordagens ligadas por exemplo empreendedorismo, bem-estar animal ou voluntariado.

    ler tudo aqui 


  15. Portugal é atualmente o país europeu com menos abortos por cada mil nascimentos vivos, o que vem demonstrar que a interrupção voluntária da gravidez foi “um grande sucesso”, considera o diretor-geral da Saúde [Francisco George].
    (...)
    “A IVG foi um sucesso, um grande sucesso. Ao longo destes anos analisámos os registos e percebemos que, todos os anos, há menos interrupções do que no ano anterior. [O número] tem descido e essa descida é acentuada. Temos menos 15% de interrupções do que quando começámos e 15% é importante”, resumiu o diretor-geral da Saúde em entrevista à agência Lusa.
    (...)
    Segundo Francisco George, atualmente, Portugal está “no lugar mais cimeiro ao nível europeu” no que se refere às interrupções de gravidez, sendo o país com “menos interrupções por cada mil nascimentos vivos”.
    “[O aborto] era um problema da sociedade portuguesa.Interrupções feitas sem condições de higiene, de dignidade para a mulher. O reconhecimento deste direito [à IVG] veio melhorar as condições de saúde da própria mulher”, considera o diretor-geral da Saúde.
    O responsável pela saúde pública salienta que deixaram de chegar às urgências casos de mulheres com rutura de órgãos, como vagina e útero, decorrentes de manobras realizadas em abortos mal feitos.

    No início da aplicação da lei, Francisco George ainda “recebia protestos de alguns grupos” de cidadãos, mas diz que, hoje em dia, “já não se fala no assunto”.
    Aos que ainda possam ter dúvidas, deixa a questão: “Alguém se convence de que se a lei não existisse, as interrupções não existiam?”.

    O relatório oficial das interrupções da gravidez mais recente refere-se a dados de 2015, ano em que se registou o número de abortos mais baixo desde 2008, primeiro ano completo desde que entrou em vigor a lei que despenalizou o aborto até às dez semanas de gravidez.
    Este documento mostra que houve uma diminuição de 1,9% nos abortos por opção da mulher entre 2014 e 2015, tendo sido feitas 15.873 interrupções por decisão da grávida nesse ano.


  16. Noticias sobre o Dia Mundial da Saúde Sexual

    segunda-feira, 4 de setembro de 2017

    Saúde sexual: pode haver sexualidade sem sexo? (aqui)



    Fomos medir o pulso à saúde sexual no país. O que dizem os especialistas? (aqui)


    Redescobrir a sexualidade depois do cancro é possível (aqui)


    O papel do farmacêutico na Saúde Sexual dos portugueses (aqui)

  17. 5.º aniversário

    quinta-feira, 10 de agosto de 2017

    ...e cá continuamos o trabalho em prol de uma efectiva Educação para a Sexualidade.

      

  18. É apenas mais uma família!

    segunda-feira, 7 de agosto de 2017

    Trystan Reese e o seu parceiro Biff Chaplow já eram pais experientes quando, no ano passado, decidiram que estava na hora de adicionar mais um membro à família. (...)


    A história da sua família, e a vontade de a tornar pública, demonstra uma mudança na forma da sociedade ver a gravidez e a educação de crianças por parte de homens transgénero como um estigma social. Este estigma já começou a desaparecer e grupos de defesa dos direitos LGBT têm lutado por mais aceitação.
    Talvez o maior de desejo do casal seja clarificar algo: eles não são os primeiros. Longe disso.
    “As pessoas acham que isto foi uma experiência que decidimos fazer”, diz Reese, acrescentando que testemunhou amigos passarem pelo mesmo processo depois da transição deles. “Isto já foi feito. É algo que tem sido feito de forma bastante segura e saudável. Não queremos ser classificados como pioneiros.”
    (...)
    Reese, agora com 34 anos, nasceu num corpo de mulher e assim ficou até aos seus últimos anos de adolescência. Aos 20 anos, depois de aconselhamento, começou a tomar hormonas e a identificar-se como homem. Cerca de oito anos depois conheceu Chaplow e, como recordam, foi “amor à primeira vista”. Ganharam a custódia dos sobrinhos de Chaplow em 2011.
    Quando decidiram ter um filho biológico, procuraram aconselhamento médico. Foram informados de que, como na sua transição Reese só se tinha submetido a terapia hormonal, o processo para se preparar para conceber uma criança não seria muito diferente do de uma mulher que usasse a pílula ou outros métodos contraceptivos.
    Cinco meses depois de parar de tomar testosterona, Reese engravidou. O casal optou por não divulgar o método de concepção escolhido.
    “Quando descobri, estava tão excitado quanto com medo”, explicou. “Estava tão feliz por passar por este processo com a pessoa que amo, mas ao mesmo tempo aterrorizado. Ia conseguir fazê-lo? A gravidez é difícil, o parto é difícil e esperava ser capaz de lidar com tudo.”
    Aos seis meses de gravidez, Reese respondeu a muitas curiosidades e clarificou algumas ideias erradas que as pessoas tinham em relação à sua gravidez num vídeo que publicou nas redes sociais. Sentado no sofá com uma barriga do tamanho de um melão escondida pela roupa, explicou como a testosterona que tomava lhe fez crescer barba e fez com que a sua voz ficasse mais grave, mas que o deixou com um útero e ovários funcionais.
    “Nunca desejei ter nascido rapaz ou ter um corpo exactamente igual ao do meu parceiro, que nasceu rapaz”, explica Reese. “Sinto-me bem com ser transgénero. Sinceramente, acho que é maravilhoso. E nunca quis que o meu corpo fosse diferente do que é.”
    “Se conseguirem perceber essa parte, então começa a fazer-vos mais sentido e a não parecer tão estranho eu querer conceber um bebé, pois não quero que o meu corpo não seja um corpo transgénero. Sinto-me bem ser um homem com um útero e que tem a possibilidade de ter um filho.”
    Reese contou que a sua gravidez teve todos os altos e baixos característicos de uma gravidez: os pés inchados, a fatiga, as mudanças de humor e toda a excitação de estar prestes a trazer uma nova criança ao mundo.
    A 14 de Julho, ao fim de 30 horas de trabalho de parto, nasceu Leo, um rapaz saudável com um pouco mais de 4kg.
    Reese contou ao Washington Post que nunca imaginaria que a sua vida desse uma volta tão grande quando começou a terapia hormonal há 14 anos.
    “Achava que nunca ia encontrar alguém por quem me apaixonasse e que quisesse ficar comigo. Nunca me imaginei a adoptar duas crianças tão brilhantes, engraçadas e encantadoras. O facto de que isto me aconteceu apanhou-me completamente de surpresa. Não é esta a história de transgénero que nos contam, que ter uma família é possível.”

  19. Dia Mundial do Orgasmo

    segunda-feira, 31 de julho de 2017

    Entrevista do site Lifestyle ao Minuto à sexóloga Marta Crawford, a propósito do Dia do Orgasmo.

    O orgasmo feminino não é um mito, nem tão pouco uma capacidade exclusiva de um pequeno grupo de mulheres, contudo, é preciso explorar o sexo além da penetração... e da vagina. Fala-se do ponto G, de um sem fim de posições 'milagrosas', mas a verdade é que tudo depende de uma pequena parte do corpo feminino capaz de fazer toda e qualquer magia acontecer: o clitóris.
    "O clitóris é o órgão sexual principal de uma mulher, tem o dobro das terminações nervosas do pénis, é uma zona muito poderosa que estimula a mulher e se não houver esse tipo de estimulação direta ou indireta do clitóris, através do sexo oral por exemplo, são muitas as mulheres que têm menos prazer e menos capacidade de atingirem o orgasmo".


    A sexualidade feminina continua a ser um tema não muito esclarecedor, nem mesmo para as mulheres. Porque é que é um não-assunto, se podemos assim chamar-lhe?
    Acho que hoje em dia já não é um não-assunto. As mulheres não dizem que se masturbam, mas os homens também não, mas eu faço sempre a piada de que os homens aprenderam a masturbar-se desde pequeninos. Começa na assistência médica, no pediatra que diz aos pais para puxarem a pele para trás, por isso, eles desde pequeninos percebem que ao fazer esse movimento ficam com o pénis ereto e que é bom, sabem que sabe bem. Em bebés e pequeninos sabe bem, mas mais tarde sabe muito bem.
    As mulheres não têm essa sorte, o médico não lhe diz para ir mexer no clitóris porque isso vai melhorar qualquer coisa, há sempre aquela ideia do 'não ponhas a mão aí porque parece mal' ou cheira mal ou não se mexe aí ou não sei o quê. Continua a haver esta ideia, na verdade, de alguma forma, não há muita igualdade no tratamento no sentido da assistência à masturbação. As mulheres são mais contidas, a vagina é mais interna, tem de se pôr o espelho para se ver tudo, no homem é tudo muito mais para fora, é tudo com mais facilidade, mas o que é certo é que as mulheres continuam a achar que o prazer tem de ser de uma determinada forma e é um pensamento muito masculino e os homens pensam da mesma maneira.

    Como assim?
    Continuo a ter mulheres no consultório que dizem 'eu não tenho orgasmos' e eu pergunto: 'mas não tem, por exemplo, através do sexo oral ou da masturbação?' e elas respondem 'sim, isso tenho!'. E eu fico: 'então ainda agora me disse que não tem orgasmos' e elas dizem que não têm orgasmo na relação através da penetração... mas 70% das mulheres também não têm, é só uma pequena percentagem que tem a exclusividade do prazer sexual só através da penetração.
    O clitóris é o órgão sexual principal de uma mulher, tem o dobro das terminações nervosas do pénis, é uma zona muito poderosa que estimula a mulher e se não houver esse tipo de estimulação direta ou indireta do clitóris, através do sexo oral por exemplo, são muitas as mulheres que têm menos prazer e menos capacidade de atingirem o orgasmo.
    Muitos homens e mulheres acham que a penetração é o supra-sumo do sexo, que o sexo é a penetração e esse é um dos grandes erros e o mito, que vem da ideia da procriação, pois através da penetração é mais fácil procriar. Já modificámos o conceito da sexualidade, já olhámos para o sexo como uma função do prazer, do entretenimento, mas, em termos da posição ou do ato, achamos que tem sempre de ser através da penetração, como se fosse o comportamento mais importante de todos.
    O resultado disto: há muitos equívocos. Eu explico isto a muitas mulheres e digo: 'se fazem tanta questão de terem um orgasmo com a penetração, porque não há estimulação a zona clitoriana em simultâneo com a penetração?' e elas dizem que não o fazem porque isso já foi feito antes da penetração. Para elas e eles o sexo é já lambi, já esfreguei, agora é a penetração, não há mistura. Mas há mistura sim, até porque muitas mulheres, no momento da penetração, perdem a sua excitação, a sua disponibilidade e o homem não, é 'eu já lambi, já fiz o que tinha a fazer'.
    A penetração é o momento em que os homens têm mais prazer, o pénis, de facto, fica quentinho, fica dentro de um saquinho que é a vagina, que tem lá dentro uns feitios internos que roçam no pénis e isso é interessante, mas para a mulher, a vagina internamente não tem muito interesse, não tem muitas terminações nervosas.
    Quando os casais começam a perceber o que ambos gostam e se pensarem, entre-aspas, em ganhar tempo com a estimulação, que não é só nas mamas e órgãos sexuais, é dos pés à cabeça, sem pressa, se calhar a mulher tem mais disponibilidade e desejo sexual e isso corre bem para os dois. Quando o interesse é muito apressado e eu estiver a fazer sexo como se estivesse a masturbar-me, ou seja, só a pensar em mim próprio, o sexo não tem interesse nem para um, nem para outro. Mesmo que eu tenha o orgasmo, isso não é sinal de que eu tenha uma relação íntima de qualidade, porque os orgasmos podem ser tipo arrotos, ou espirros ou ser orgasmos com letra grande, em que as pessoas se lembram deles. Os orgasmos, de facto, não são todos iguais e é possível obter orgasmos 'esfregando', tão simples como lavar a roupa no tanque.

    Mas essa ideia de que o orgasmo é só através da penetração é por culpa da falta de conhecimento ou porque as mulheres não exploram o próprio corpo?
    A mulher explora, mas o engraçado é que há mulheres que não tocam nos seus genitais, que se masturbam através da compressão das pernas. É uma forma de terem prazer, mas não tocando, porque lhes faz alguma confusão tocar nos genitais. Vejo muitas mulheres que não gostam que lhes façam sexo oral porque têm a ideia de si um bocado sujas, que cheiram a peixe ou não sei o quê.
    As mulheres são menos exploradoras, talvez, mas acho que são cada vez mais, só que ainda não estão ao nível da exploração masculina. Se os homens tivessem o pénis preso noutro sítio, no rabo ou nas costas, não tinham a mesma relação que têm com o supra-sumo da sua vida, mas quando não funciona também é o fim do mundo para os homens, acham que já não têm potencial ou interesse não tendo um pénis eficaz, isso também não é verdade.
    Esta questão da penetração faz com que, muitas vezes, a dificuldade de ter uma ereção iniba qualquer tipo de intimidade com uma parceira ou com um parceiro, porque se acha que o sexo é um pénis ereto. Esse é um dos outros grandes erros da sexualidade, é achar que o pénis é imbuído de todo o poder do sexo e que é assim tipo o bastião de não sei o quê.

    Mas isso é um pensamento um pouco preconceituoso...
    Sim, mas os homens têm esta coisa e depois vêm os 'viagras' salvar a humanidade masculina. Tinha deixado de haver ereção, então tinha-se acabado o sexo nas relações, mas toma-se um comprimido e passam a ter ereção e muitos deles continuam a ser incompetentes na relação, a não perceber as necessidades da parceira.
    Antes do Viagra, as mulheres estavam satisfeitas porque se tinham livrado dos parceiros incompetentes e de repente eles voltam a ter ereção, mas a competência não aparece com o comprimido, é com o compreender, com o dialogar, mas para dialogar também é preciso haver duas pessoas e o que acontece é que há um que até consegue dialogar, mas se outro não abre a boca, acha que não é preciso dialogar, tem pudor, então vai ficar tudo na mesma.

  20. Documentário animado "Le Clitóris"

    quinta-feira, 27 de julho de 2017

    O documentário animado Le Clitóris inicia-se como uma reflexão sobre a sorte que as mulheres têm por ter o único órgão no corpo humano dedicado exclusivamente ao prazer. Esta animação pode servir com uma divertida sessão de educação sexual ou como uma belíssima animação para toda a família – caso os pais precisem de um empurrãozinho para facilitar a resolução das dúvida dos seus filhos.

    Realizado por Lori Malépart-Traversy, foi o projecto de final de curso na Mel Hoppenheim School of Cinema, na Universidade de Concordia em Montreal, Canada. Já ganhou prémios em diversos festivais, um pouco por todo o mundo. O filme é resultado da combinação de gouache em papel com animação digital 2D durante três minutos de instrução obre um dos órgãos mais fascinantes do corpo humano.



  21. Alunos de Vagos protestam contra “homofobia”, BE pede explicações

    Duas alunas ameaçadas com processo disciplinar após serem vistas a beijarem-se na escola


    Inspecção-Geral da Educação investiga alegada homofobia na escola de Vagos

    O Director da escola em questão referiu que “não houve qualquer repreensão ou crítica à orientação sexual das alunas. Na passada segunda-feira, um elemento da direção falou com uma das alunas, num local reservado, pedindo alguma contenção, no sentido de as proteger”.
    Será que também reúne e pede contenção aos pares de namorados heterossexuais?!

  22. International Day Against Homophobia & Transphobia

    quarta-feira, 17 de maio de 2017


    TEACHERS, TAKE ACTION!
    Arguments for Action

    Schools can be violent places

    Although there are many examples of schools which have over the past few years consistently been working to create conducive and safe learning environments, research from many countries still reveals generally high levels of abuse, harassment and verbal or physical violence experienced by young LGBT people in schools.

    The stigma, discrimination and bullying they suffer goes against their right to education
    Studies have widely documented that bullying in school has a huge impact on learning achievement and dropout rates. It is a major obstacle to the right to education. Psychological damage, including low self-esteem, bear permanent marks on people’s lives and can lead to self-harming conduct, including suicide.
    Research in the US has shown that students who are bullied at school are more than twice as likely to report a suicide attempt than students who are not bullied.

    And these unsafe environments are bad for all students
    Beyond the terrible impact bullying has on the children and students who are perceived as different, it creates generally unsafe, discriminatory, stigmatizing and violent school climates.
    These climates have proven to have very negative effects on the learning outcomes of allstudents, not only the bullied ones. It is therefore in the interest of all to reverse the situation and allow education systems to construct societies, which are inclusive of diversity and respectful of the individual.

    Kids who are different from the majority gender norm suffer most from violence in schools
    Violence in schools reflects wider social problems such as racism, discrimination of people with physical and mental disabilities, etc. However, according to the United Nations World Report on Violence against Children (2006), most bullying is actually sexual or gender-based and targets those perceived as not conforming to prevailing sexual and gender norms.
    Young girls who are not ‘feminine’ enough and young boys who are not ‘masculine’ enough are specifically exposed to mockery, abuse, exclusion and violence.

    It not only goes against the individuals, but it undermines gender equality objectives altogether
    As this violence is bred by stereotyped gender roles (conforming to what is said to be ‘masculine’ or ‘feminine’), to let it happen unchallenged threatens the whole construction of a more gender equal society.

    Homo/transphobia is an entry point to tackle sex/gender-based violence
    Homophobia and transphobia are forms of hatred expressed towards people because they are, or are believed to be, homosexual or transgender. Homophobia and Transphobia are forms of gender-based violence because they are based on the assumption that all people should conform to the majority representation of what ‘masculine’ or ‘feminine’ behaviors are, or ought to be.
    This form of violence does not only affect children and students with different sexual orientations or gender expressions. Surveys have shown that 80% of people who have been exposed to homo/transphobic bullying define themselves as heterosexual.
    For teachers, fighting sex/gender-based violence is therefore an essential strategy to improve learning achievements for all and should be taken very seriously.

    Teachers worldwide are taking action
    Teachers know about the importance of a sustainable, safe and inspiring learning environment. They act everyday to provide it to their students and have often developed innovative approaches to tackling sexuality-related bullying in general, and homophobia/transphobia in particular, in the classroom. Nevertheless, teachers also often experience unease in raising this specific issue. This is why this initiative was developed. It focuses on making use of the International Day Against Homophobia and Transphobia as a good opportunity for action and to provide teachers with ideas, inspiration and material for action.
    The fact that the International Day Against Homophobia and Transphobia is recognized by many governments and international institutions, and is marked by UNESCO, provides a good argument for teachers to take action.

  23. ILGA recebeu 179 queixas de discriminação contra pessoas LGBT em 2016

    De acordo com os dados do relatório "Homofobia e transfobia: dados da discriminação em Portugal" o Observatório da Discriminação registou 179 incidentes no ano passado, 92 dos quais "correspondem à classificação de crimes e/ou incidentes motivos pelo ódio contra pessoas LGBT".
    (...)
    Segundo os dados do Observatório, entre as 92 situações que configuram crimes ou incidentes motivados pelo ódio contra pessoas LGBT incluem-se duas situações de violência física extrema, uma delas a um homossexual por parte de dois agressores, da qual resultou "danos na visão" e a necessidade de acompanhamento hospitalar.
    "Um segundo relato configura uma situação de violência de cariz sexual e envolve agressões físicas e coação para relações sexuais não consentidas com um grupo de homens", lê-se no relatório.
    Por outro lado, foram também identificados onze casos de agressão, que incluem relatos de agressões na rua, agressões a jovens por parte de elementos da família, seguidas de expulsão de casa ou arrastamento e expulsão de estabelecimento de lazer nocturno.
    O Observatório regista também de 33 situações de ameaças ou formas de violência psicológica, 38 incidentes discriminatórios, sete casos de discurso de ódio, "maioritariamente em contexto online" e uma situação de dano a propriedade, com um carro riscado, pertencente a uma mulher identificada como lésbica e vítima de insultos homofóbicos na sua área de residência.
    Além das situações de tentativa de agressão ou agressão concretizada, o Observatório registou também oito casos de violência sexual, entre cinco de assédio sexual, duas violações e um caso de abuso sexual.
    A maioria (55,3) das 179 denúncias foram feitas ao Observatório pelas próprias vítimas, tendo a maior parte dos casos (47) ocorrido em Lisboa, seguindo-se o Porto (9,5) e logo a seguir Setúbal e Aveiro, ambos os distritos com 4.
    Quase metade das vítimas (47,65) identificou-se como homem e cerca de um quarto (25,29) como mulher, sendo que, no que diz respeito à orientação sexual da vítima, 37,65 dos casos são relativos a homens gay, 19,41 a mulheres lésbicas e 17 a pessoas bissexuais.
    A idade média das vítimas situa-se nos 25 anos, tendo a vítima mais velha 80 anos e a mais nova 12. A maior proporção de idades situa-se entre os 18 e os 24 anos (34,12), o que demonstra que "a discriminação continua a afectar de forma mais significativa esta camada da população, geralmente caraterizada por uma maior vulnerabilidade".
    Também a idade média dos agressores é semelhante, com 21,7 entre os 25 e os 34 anos e 18,2 entre 15 e 24 anos.
    A grande maioria das situações denunciadas ao Observatório ocorreu em contextos e espaços públicos, nomeadamente na rua (23), na escola (16,15) ou no local de trabalho (15), além de 17 que ocorreram em contexto online.

    Fonte: Público

  24. Quando o corpo é uma prisão

    segunda-feira, 1 de maio de 2017

    Brilhante reportagem sobre a transexualidade. Isto sim, é serviço público.

    Jovens trans reuniram-se no Porto para partilhar experiências e sonhos. Alguns tinham 15 e 16 anos, mas as certezas vêm desde criança. Os pais quiseram fazer parte.

    1. "Eu nunca me imaginei como mulher"

    2. "Todas as noites imaginava o dia seguinte como se fosse um rapaz"

    3. "Tivemos pais a avisarem os filhos que isto ia acontecer"

    4. O que diz a lei. E o que poderá dizer

    5. "Quando era mulher tinha medo de andar à noite sozinho na rua. Agora não"

  25. Já nasceu (mas não sabemos se é menino ou menina)

    quarta-feira, 26 de abril de 2017

    Estava tudo planeado para o nascimento de Elsa. Era a primeira filha de Joaquim e Carlota e foi tudo preparado ao milímetro durante os nove meses de gravidez. As paredes do quarto que iria receber a recém-nascida foram cuidadosamente pintadas de cor de rosa por Joaquim, num fim de semana frio de inverno, para dar tempo a que o cheiro a tinta desaparecesse até à primavera.
    O berço foi oferecido pelas futuras tias, mas foi ao casal a quem coube a tarefa de o montar. Longas horas que não foram em vão: foi aí que decidiram batizar a filha com o nome de Elsa, em memória de uma das avós de Carlota — mulher com garra e sem papas na língua.
    Ainda faltava um mês para a data prevista para o nascimento e Carlota já tinha separado as três primeiras mudas de roupa para a bebé: cada uma delas num saco de pano, também cor de rosa, bordados com o número correspondente a cada um dos dias previstos que iria passar no hospital.
    Foi por isso tranquilamente que o casal se dirigiu a uma maternidade em Lisboa, quando Carlota começou com as primeiras contrações. Horas depois, foi encaminhada para a sala de partos. Com a emoção e o stress do momento, Carlota nem sequer se apercebeu que os médicos não disseram a frase clássica: “Aqui tem a sua menina!”. Por uma razão: não conseguiam ter a certeza se se tratava de uma menina ou de um menino.
    Elsa nasceu com ambiguidade sexual. A bebé apresentava um clítoris aumentado, uns grandes lábios parcialmente unidos e a uretra e a vagina a coincidir no mesmo canal, em vez de estarem separadas.
    Seguiram-se uma série de exames — a nível genético, imagiológico e hormonal — para se perceber o que se passava ao certo com a recém-nascida. Tudo apontava para uma menina: geneticamente era uma mulher (cariótipo 46XX), tinha ovários e útero. As alterações hormonais apontavam para uma hiperplasia congénita da supra-renal — os bebés com estas alterações podem apresentar desde um clítoris aumentado a órgãos genitais de aspeto masculino, mas os órgãos internos são femininos.
    É um nome complexo para designar uma das 40 variações de anomalias de diferenciação sexual ou alterações do desenvolvimento sexual (em inglês, Disorders of Sexual Differentiations ou Disorders of Sexual Development – DSD), que podem ser diagnosticadas durante a gestação, no nascimento do bebé, durante a infância ou apenas quando a criança chega à puberdade, explica a geneticista Ana Medeira.
    As alterações do desenvolvimento sexual podem ser diagnosticadas durante a gestação, no nascimento do bebé, durante a infância ou apenas quando a criança chega à puberdade.
    E revelam-se de diferentes formas: à nascença, os bebés podem ter genitais de aparência masculinos, mas internamente têm útero e ovários (hiperplasia congénita da supra-renal). Outra hipótese é as crianças nascerem com órgãos genitais femininos e só se descobrir que são geneticamente do sexo masculino quando surge uma massa numa virilha, suspeita de se tratar de uma hérnia, que acaba por se revelar um testículo; ou quando chegam à adolescência e não menstruam, porque não têm ovários e útero (insensibilidade completa aos androgénios – CAIS). Há ainda os casos em que os bebés nascem com pénis e testículos, mas muito pouco desenvolvidos (insensibilidade parcial aos androgénios – PAIS).
    Talvez o caso mais conhecido destas alterações seja o das “Guevedoces” (“pénis aos 12 [anos]”, traduzido literalmente): crianças de uma pequena comunidade na República Dominicana que nascem com o que aparentam ser genitais externos femininos, mas os genitais internos são masculinos. São registadas e educadas como meninas e depois, na puberdade, cresce um pénis e os testículos intra abdominais descem. São crianças que, na sua maioria, nunca se identificaram com o género feminino e que acabam por fazer a transição para o género masculino.
    As pessoas com este tipo de anomalias são por norma designadas de intersexo. Isto é, pessoas que nascem com características sexuais que não se encaixam nos conceitos típicos de corpos masculinos e femininos, lê-se num documento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos — nome que a comunidade médica deixou de utilizar por ser considerado preconceituoso.
    Um distúrbio raro, mas não assim tanto quanto se possa imaginar: afeta cerca de 0,05% a 1,7% da população mundial. Mais ou menos a mesma percentagem de pessoas ruivas existentes em todo o mundo. Em Portugal não é possível estimar um número concreto destas alterações, uma vez que não existe uma base de dados comum a todos os hospitais.


    (...)  (Ler o resto aqui)
    No caso de Elsa, a bebé começou a fazer uma medicação para regular o funcionamento da glândula supra-renal, mas também para impedir que ficasse com características masculinas. Aos 12 meses foi submetida a uma cirurgia de correção: o tamanho do clítoris foi reduzido, o feixe vasculonervoso foi conservado para manter a sensibilidade, os componentes do pénis responsáveis pela ereção (corpos cavernosos) foram separados e colocados sob os grandes lábios, e a uretra e a vagina foram separadas para que os genitais externos ficassem com um aspeto feminino — uma intervenção apelidada de genitoplastia feminizante com conservação dos corpos cavernosos.
    “Esta correção permite-nos, caso haja disforia de género [se mais tarde a criança não se identificar com o sexo de nascença ou atribuído] — o que acontece em 5% dos casos –, reverter a cirurgia se essa for a escolha futura do doente. Não se fazem mutilações”, garante Fátima Alves. “É uma cirurgia com muitos passos e delicada. É preciso que a vagina que vai ser reconstruída permita a função sexual no futuro”, acrescenta a endocrinologista Lurdes Lopes. 


    Mas o Governo quer alterar estes procedimentos. Na passada quinta-feira, foi aprovado em Conselho de Ministros um projeto de lei que proíbe a realização cirurgias corretivas, bem como de tratamentos que impliquem alterações ao nível do corpo ou de características sexuais, até que haja uma autodeterminação de género por parte da criança.
    “O diploma refere que não devem ser realizadas cirurgias em crianças intersexo, a não ser por razões de saúde clínica, e só devem ser feitas após a identidade de género estar expressa”, afirmou a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino, ao Observador.
    Quando a criança manifestar a sua identidade de género, os tratamentos e as cirurgias serão feitas mediante consentimento do próprio e através dos pais ou representantes legais. “O que marca esta legislação é que fica definido quais são os procedimentos a tomar“.
    "O que marca esta legislação é que fica definido quais são os procedimentos a tomar", afirmou a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Catarina Marcelino, ao Observador.
    Este projeto de lei, que terá ainda de ir a votos no Parlamento, é uma maneira de regulamentar estas práticas, que se irão aplicar também às crianças de países africanos que venham a Portugal para ser tratadas. Aliás, o Ministério da Saúde irá elaborar “um protocolo de intervenção” para se definir como abordar estes casos. “É do superior interesse da criança definir regras“, refere a governante.
    Apesar da ambiguidade genital, os pais continuam a registar o bebé como tem sido feito até hoje — têm de optar pelo género masculino ou feminino. Mais tarde, e se assim o desejar, a criança poderá alterar o género que lhe foi atribuído. Caso este diploma seja aprovado, poderá fazê-lo a partir dos 16 anos e sem precisar de um relatório médico “como qualquer outra criança cuja identidade de género não se identifique com sexo”, esclarece Catarina Marcelino — a atual legislação só o permite fazê-lo aos 18 e com autorização médica.

    O projeto de lei prevê ainda que sejam adotados procedimentos para que, em ambiente escolar, as crianças “possam adotar o nome com o qual se identificam na sua expressão de género”. 
    (Ler o resto aqui)

    FONTE: Observador

  26. A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em colaboração com a Faculdade de Medicina e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, acaba de lançar um programa doutoral pioneiro a nível europeu, dedicado ao estudo da Sexualidade Humana.
    Destinado a psicólogos, educadores, médicos, enfermeiros, sexólogos e outros profissionais nas áreas da Saúde e das Ciências Sociais e Humanas, o PDSH – Programa Doutoral em Sexualidade Humana tem como objetivo promover o conhecimento avançado e o desenvolvimento de investigação nesta área de relevância central, quer para o bem-estar quer para a saúde biopsicossocial. Trata-se do primeiro doutoramento desta natureza no espaço europeu e um dos poucos a nível internacional.
    Com a duração de seis semestres, o plano de estudos do PDSH aborda as questões da sexologia clínica, género e identidade, educação sexual, medicina sexual e a saúde sexual e reprodutiva. Em perspetiva está ainda a criação de parcerias internacionais estratégicas, tendo em vista o estabelecimento de um centro de excelência internacional na área da sexualidade na Universidade do Porto e em Portugal.
    O curso já recebeu acreditação oficial da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, estando prevista a abertura de candidaturas para o ano letivo 2018/2019.

  27. 8 Ways Every Vagina Is Different

    quarta-feira, 19 de abril de 2017

    In a way, your parents weren't lying when they told you that you were a very special little girl. Not because you have unique talents that set you apart from the rest of the world (no, there are plenty of other people who can say the alphabet backwards); rather, it's because you and your vagina are totally, completely unique. There are no two vaginas in the world that look the same, smell the same, or feel the same. So yeah, I guess you could consider yourself a special chick.
     
    However, the specialness of your vagina is less due to something you did or didn't do in your life, and more to due with the fact that there is no such thing as a "normal" vagina. So whatever script you had playing in your head about what a "normal" vag is, go ahead and scratch it. That said, there are some basic indicators down there that tell you what's happening with your overall health. For example, noticeable dryness, itchiness, and a cottage cheese scent tell you you've got a yeast infection (and possibly that you're way too stressed out). However, for the most part, your vaginal quirks are just that — harmless quirks.
    Nevertheless, we still wonder whether the thickness of our labia is standard, or if the waviness of our pubes is ordinary. We can't help but ask these questions because the information we've been given about vaginas (and the stuff we see in porn) teach us very little about the varying shapes and sizes our pleasure boxes come in. So here's some reliable information to get you more acquainted.
    Here are eight ways everyone's vagina is different.


    [ler o resto aqui]

  28. International Seminar: Research in Human Sexuality

    terça-feira, 4 de abril de 2017


    Toda a informação aqui.

  29. Dia Internacional da Mulher #3

    quarta-feira, 8 de março de 2017


  30. A razão do deputado polaco
     
    As mulheres são bastante mais mal pagas do que os homens a desempenhar a mesma função. Os homens têm acesso aos melhores empregos nas melhores empresas. Eles dominam por completo as administrações do PSI 20 e há leis para disfarçar a coisa, tentando impor uma quota para elas.
    No Dia da Mulher, o DN procura fazer um retrato de como são as coisas no mercado de trabalho. Não há grande novidade e por isso é notícia. Do início da luta feminista até hoje passaram décadas, houve avanços, mas a discriminação continua a ser gritante. Eu tenho filhas e não sei como lhes explicar este mundo onde elas estão a crescer e onde um dia vão entrar no mercado de trabalho.
    Já tive de lhes explicar que o eurodeputado polaco Janusz Korwin-Mikke é um parvalhão. Um parvalhão que disse que "as mulheres devem receber menos porque são mais pequenas, mais fracas e menos inteligentes". Eu não quero que as minhas filhas cresçam ouvindo este tipo de coisas, mas teria um problema sério em explicar-lhes a primeira parte daquela conversa. Até porque estou convencido de que o conjunto da sociedade verdadeiramente não gostou de o ouvir dizer que elas "são mais pequenas, mais fracas e menos inteligente", porque quanto ao facto de as mulheres deverem ganhar menos a sociedade dá inteira razão a Janusz.
    A sociedade continua bastante machista, mais tolerante para ouvir as queixas das mulheres mas eternamente indisponível para lhes dar razão e acrescentar sentido prático ao debate pela igualdade de género, que vimos fazendo há décadas. Dividir riqueza sem handicap é coisa para uma conversa de séculos. Há lá coisa mais absurda do que a notícia que ontem deu o DN?: "Após o divórcio, os homens podem casar-se seis meses depois, as mulheres têm de esperar mais quatro." A lei é de 1967, mas nunca ninguém a quis mudar. É agora intenção do Bloco de Esquerda fazê-lo. Acham que o problema é o Janusz? O que fazemos dá-lhe razão, mesmo que pensemos o contrário.

    Artigo de autoria de Paulo Baldaia no DN online.

  31. Acima de tudo importa vincar que este não é um dia para prendinhas, parabéns e jantares! Ao invés, deve servir para fazer menção ao facto das mulheres não terem as mesmas oportunidades profissionais e quando as têm são mais mal remuneradas; pelo facto de serem penalizadas com a gravidez; pelo facto de serem tratadas como inferiores - vide, por exemplo, o presidente dos EUA ou o deputado polaco do Parlamento Europeu. Assim, o 8 de março deve servir para empoderar as mulheres, começando logo pelas mais novas.

     



  32. Par de cromos!

    quinta-feira, 2 de março de 2017





  33. "La sexualidad en las personas con diversidad funcional"

    segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017


    Artigo super completo sobre sexualidade na diversidade funcional. É de leitura obrigatória. 
    Documento completo aqui

  34. Vai chegar?!

    terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

    Combate à violência de género e estereótipos vai chegar às salas de aula
    A questão da violência e dos estereótipos de género vai começar a ser tratada nas salas de aula, do pré-escolar ao 12.º ano, já a partir do próximo ano lectivo. “Estas questões têm que começar a ser trabalhadas no pré-escolar, para que as crianças as encarem como negativas desde muito cedo, tal como hoje fazem a reciclagem a partir dos três anos”, anunciou a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino.

    Então mas esta temática já lá está. Melhor, esta temática já é obrigatória.
    Mais uma vez fazem-se programas e planos para se cumprirem os planos e programas anteriores que não foram cumpridos! Não seria mais interessante responsabilizar as escolas por fazerem aquilo a que estão obrigadas?! Enfim...